23.2.07

Fórmula do “Tem de ser”


Brotaste selvagem em solo arenoso. Cresceste ao vento. Não foste regado.
A vida que corre nos teus veios não recebeu grande brilho do Sol, mas trazes esse em cada rasgar dos teus lábios. Raízes fracas sustentam-te. Manténs-te. Destacas-te. De dia pavoneias-te. As garras afiadas. O alvo caças. Largas com desdém, percorrendo caminhos decididos por jogadas perigosas que te entusiasmam.
Gastas as tuas energias a trotear as palavras na brisa, que se ouvem ao longe, que as flores mais tristes reparam. O teu aspecto erecto e saudável! Cheio de bem-estar, dás cada passo seguro pela imagem de uma planta forte.
Quando a noite chega, essas pétalas unem-se para te proteger dessa humidade que se entranha ao mínimo descuido.

A geada queima!
A noite apazigua.

Escondes-te. Vergas-te. E entregas-te.
Num dado momento, as gotas alimentam-te, os teus olhos estão fechados e percorre-te a paz que sabes precisar.
Quando a madrugada te descobre, atacado pelos primeiros raios, ainda embebido na loucura das cores do amanhecer, moves-te subtilmente em jeito de encaixe.
Quando bate as 12h, não toleras o sabor conquistado, não te sentes merecedor dessa dádiva, estás de novo resplandecente e estás agora mais crescido.
O milímetro somado, roubou-te a humildade, estás agora entregue a ti mesmo. Subtraíste os momentos de vida e julgas-te capaz de enfrentar a tempestade que se avizinha. Largas a fonte da tua alma à mercê de um ciclone e decides com a lógica da vida. Quando ouves a razão ela entra na tua fórmula: com a razão multiplicas, subtrais, divides, somas e segues! Essa fórmula do “Tem de ser”.
Estás de novo belo, sereno e cheio de graciosidade. Sentes que os teus ramos podem conseguir abraçar o mundo! Consideras-te no teu melhor.
Quando o Sol parte, a chuva cai, os ramos parecem frágeis, a máscara afigura-se diferente, as folhas quase tocam o chão e tu? Tu respiras com dificuldade, mas gastas o que não tens para tornar a conquistar o olhar que convence.

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