26.4.08

sem despedidas

há coisas que não sabemos
aceito
há sensações que não explicamos
sei que é assim
não vale fugir do fim
nem de mim

encontrada a sensação boa
ainda com medo da não verdade
na correria que é Lisboa
surge a louca realidade

não sei
viver sem acreditar

não faz parte
ser diferente no andar
não faz sentido
sem isso respirar

sem acreditar não ando
cambaleio em dunas atormentadas pelo vento
sem acreditar não te deixaria entrar
ficar, respirar, chegar para aqui e ocupar o assento

na porta da minha vida
houve quem ficasse a espreitar
contigo viajo nas estrelas
aquelas que reacendeste e teimas fazer brilhar

se consegues ler os meus lábios
não leves de mim esses olhos
e no silêncio cúmplice do segredo
ambos de joelhos
plantar flores neste mundo
ver-te sorrir hoje e amanhã... esse rasgar eu mereço
mantém firme a segurança desse fundo
e resiste mais um pouco, eu aqueço

25.4.08

com liberdade

hoje fala-se de Liberdade. viajo.
e, porque não, posso pintar o céu de estrelas?

23.4.08

formas secas


quando a chuva cai, fugirás dela?
o que te desencantou da vida?
ou será que nunca te molhaste?
os pingos terão inundado a tua pele envelhecida?

quando caminhas pelos passos acostumados
na pressa e no peso que trazes contigo
e nos pensamentos falados e atrapalhados
pergunto, costumas brincar além fronteira do teu umbigo?

com quem falas depois dos sustos, quem ouve a tua lamúria?
e se dizes sempre o que pensas, o que guardarás com tanta fúria?
se te secaram as emoções, o que deixaste por fazer?
se te afastas do mundo das mulheres, o que te faltará viver?

deves transportar sonhos ocultos dos demais
e por trás dessa máscara dura, também terás os teus cristais!
se depois dos teus anos vividos, já não te prendes pelos sinais,
então, porque sorris aos desconhecidos e te pintas todos os dias iguais?
será que ainda sorris a umas flores? ou as acharias banais?

o que fará secar uma mulher? o que nos afasta da vida com emoção?
o que nos deixará a reboque de um trabalho? porque deixamos de irrigar o coração?

Mulher, no tempo de cultivar, prende o teu rosto ao dia,
entrega-te à luz da madrugada, experimenta a tua harmonia.
deseja o brilho dos primeiros raios, não aceites a noite como tua única companhia.
e se um ombro te for oferecido sem ensaios,
colhe-o se sentires nele a vontade de te querer viva com alegria.

14.4.08

Micro-ambientes



Cada aquário tem o seu ambiente. Podemos criar um ambiente quente ou frio, mais ou menos selvagem, mais ou menos próximo do que existe no habitat natural dos animais.
O ambiente em que crescemos irá condicionar quem e o que somos. Não é factor único, ou seja, não actua sózinho nem impera isolado. Mas determina muitos aspectos de cada um de nós.
As nossas famílias não são calculadas com base em aquariofilia. Não escolhemos o cenário ou as personagens que vão viver nela. Mas temos poder para criar uma melhor ou dar a nossa mais valia para melhorar/interferir/apoiar/olhar pela que temos.
No nosso caso, a minha familia teve um incremento recente: 5 peixinhos de água quente (gentilmente oferecidos por uma amiga).
A vida não mudou, mas não posso dizer que este ambiente seja indiferente às pessoas de quem gosto muito!
Boa noite mundo,
Figueirinha

10.4.08

Pé nu

O poder da comunicação é forte. A publicidade cria imagens. O marketing consegue criar estratégias para comprarmos a pasta de dentes mais banal do mundo ao preço mais caro. Mas qual é a alminha que acredita que a Diana Chaves usa aquela marca de calçado?
Vejamos se confere. Vou lançar os buzios!
1.Um dia fui à praia. E na praia a Diana Chaves vi.
Passeava com ténis de 20€ e levava na trela o BOBI!
Hum, trálálá, relançamento!
2.Manchete na Caras: "Diana Chaves faz furor com sapatos comprados no armazém de calçado na zona industrial de Alfragide".
As marcas vendem, mas há milagres que só acontecem na cabecita de certos criativos.
Junta-se a personagem à imagem e damos-lhe a notoriedade... propaganda. A marca passa a conhecida. Uma coisa é certa, todos despertámos para a marca. Porque os outdoors com o belo corpinho da ex nadadora não deixa ninguem indiferente, mas alguém reparou no que ela tem calçado?

Alegres Tontos

queixo caído, ombro encolhido
miudo franzido, torcido
tal qual personagens de contos
alegres tontos

olhares desviados, cercados, (des)concentrados
pensamentos (des)ordenados,
dois rostos amarrados,
(des)alinhados, amuados,
lábios cerrados

perder esse sorriso, custa
ganhar essa seriedade,
assusta

pestana cansada, isola as mentes, troca-nos as voltas,
bloqueia o que sentes, névoa no tacto distorce-nos as lentes

nos entretantos dorme-se, entrega-se paz ao momento
despertamos anestesiados, volta tudo ao pensamento

agorro na bola
dou-lhe uns xutos
marco um golo no dia
revejo estes sustos
reduzo-lhe os custos
e guardo a cena que vi(vi) de putos!

7.4.08

Donos do mundo

Há por aí muitos "donos". Donos do quê? Donos de cães. Falo de cães treinados para combater. Cães que são ameaças. As ameaças deixam de sê-lo quando saem à rua. Estes cães são armas.
Com a nova Lei podemos estar no caminho de encontrar uma solução. Devia ser justa, porque é uma Lei. Mas é justo circularem em público humanos armados em donos do mundo?
Ficamos com dó dos cães porque somos humanos. E, já agora, porque sou humana, porque penso e sinto, imagino muitos cães a desejar tanto esta Lei como metade de Portugal!
Se os cães falassem a PSP passava a receber resmas de denúncias como esta:
- Posto da PSP da Musgueira muito boa tarde, agente Silva, em que posso ser útil?
- Chamo-me Bobi Junior, o meu pai é o Bobi Herói da Musgueira de Cima, e vai combater hoje contra a Musgueira de Baixo. Ele ladra muito, mas não morde. SALVEM-NO!
Ok, os cães podem ser mentirosos, mas os humanos somos nós. Também imagino muita gente disfarçada de cão, estaria garantida a denúncia anónima.

6.4.08

mocos ambulantes

entre espelhos vivemos nós. entre paredes alguns vivem sós.
o que se passa lá fora para além do meu eu? o que absorvo em mim e guardo meu?
sou a minha companhia, na tristeza e na alegria, todo o dia, na realidade e na alegoria.
mando no que digo e no que faço. tenho efeito em outro alguém. para além do EU o TU existe. e eu não vivo sem!
tenho raizes que questiono, posso mudar o presente, escolher a direcção da minha acção, posso fazer diferente.
no mar grande em que vivo, nas ondas em que passeio, ponho sentimento em cada grão que piso, existe tanto para além de mim, sei-o.
respirar para viver, viver para cuidar, estar para dar, receber para deixar partilhar.
e nas voltas que damos, encontramos mocos ambulantes, perdidos no seu corpo, valorizam as suas certezas como diamantes.
livres são-no de escolher, viver apenas o seu ser ou abrir os braços às sensações, vivem no quase viver, vivem quase as emoções.
e porque não se ouvem? porque não param um momento? porque partem logo para o tribunal, porque preferem sempre o julgamento?
usam os olhos para condenar, as mãos para mandar, antecipam quem ouvem cantar, não se importam se vão derrubar.
não querem saber os motivos, verdades como clarão, adivinham tudo antes de o ser, os erros dos outros não merecem perdão.
se se ouvissem, viam-no. se se vissem, sentiam-no.
não se mancam que por viver na escuridão se encontram cobertos por uma tremenda ilusão?
raramente são uma mais valia
largam frases com gozo ao vento sem o seu valor importar
e com as horas a passar, é fácil adivinhar
um dia embrulham as pedras de quem as recebeu e, com dor, as teve de calar.