12.3.07

Maria uma bela companheira


Os animais criamos. Os animais matamos. Os animais comemos. E há certos animais a que nos apegamos.
Em toda a minha vida nunca morreu perto de mim ninguém da minha rede de amizades, da minha família mais chegada, um vizinho muito chegado, sei lá, alguém por quem pudesse chorar dias por sentir que não iria mais poder partilhar o meu tempo com ela.
Mesmo os meus avós. Quando nasci já só me restava uma avó, a paterna e é a quem ainda telefono e oiço assim "Oh minha neta já engordaste? Já me arranjaste um neto?".
Deve ser por tudo isto que quando morre uma amiga da minha mãe de cancro, o sobrinho de uma das amigas dela com SIDA, o sogro da amiga da mãe (problemas no fígado), o colega de trabalho do pai (cancro nos pulmões), o pai da minha vizinha (insuficiência renal), o pai de um amigo meu do Algarve (suicídio), não me deixo abalar pela morte. Deve ser por isso que quando morreu o tio dos meus primos (gangrena provocado por diminuição da capacidade das veias em levar o sangue para todo o corpo) , com quem convivi em certas ocasiões, acompanhei e dei força nos primeiros momentos mais difíceis.
Morreu a Maria, a cadela da família. Dito assim até podia dar para rir, mas nem sorrir consigo.
Fiz belos passeios só eu e a Maria até à Praia da Samarra. Dei àgua à Maria. Quando chegávamos aos meus tios, lá vinha ela, já cansada de velhice, de bigodes brancos e a coxear porque os ossos já não iam para novos. Adorava que lhe passassem a mão na barriga, dava a pata como ninguém e era uma bela companhia nos momentos em que me apetecia ir passear por entre as outras casas, ver a paisagem e alhear-me um pouco do som dos humanos.
Foi uma bela cadela, defendia as crianças como ninguém, porque cresceu junto das crianças de quem a minha tia tomava conta e se alguém estranho se aproximasse delas, lá estava ela pronta para lhes lembrar da sua presença.
Pareço lamechas. Mas um facto é que em certos momentos sou mesmo lamechas.
Não choro porque a Maria morreu. Mas vou sentir a falta dela.
Mais vão sentir os meus tios, que já estão a viver a reforma. O meu tio comprava a melhor carne para a Maria. Quer dizer, primeiro para ele. Mas como ele dizia, aquela cadela farejava frango de aviário ao longe e não lhe ligava nenhuma. Viva o luxo!
Sei que há pessoas que entendem. Conheço pessoas que já pararam a vida para procurar um animal e até para cuidar dele quando já não andava, não tinha força para se levantar e não controlava as suas necessidades. Até que, tiveram de tomar uma decisão para que deixasse de sofrer da forma como estava.
Os animais devem lembrar a muitas pessoas como sentir o apego, a importância da disciplina, do afecto, da companhia sem olhar ao quê, enfim, o companheirismo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Entendo, como entendo... Eu, que quanto mais conheço os humanos mais gosto de animais...