9.5.07

Uma vida muitas mãos, um jardim muitas flores


Tenta o atento do poeta, decorar os textos com que brinca, massaja-os de alto abaixo, confere-lhe um aspecto mais altivo, mesmo que comece com a história de uma perdida "carica". Nem todos temos na veia, a corrente a este jogo, trocar as voltas às palavras, requer melancolia e alguma audácia no goto. Atrevimento quando mostrado pode dar a victória a um momento. Como alguém pegando em jarrões, esses tristes objectos com utilidade tão imprecisa, lhes coloca um arranjo para dar ao ambiente um tom mais florido! Mistura de átomos e iões. Energia transformada, a do ar que ninguém vê, sente-se de esguelha, anima o tristonho e faz sorrir até a cara mais amuada. Mesmo sem se ver já se tentou, pela fé que se mostrou, pela ré que tocou, pelo gesto em si próprio um pouco mais já regou! Uma vida muitas mãos, um jardim muitas flores.

Alguém que passeie pelo mundo despercebido, viver sem as odiar ou adorar, terá andado muribundo, como um peixe num aquário, muitos dias a nadar, sem um rumo nos dias achar. Não exigirá muito esforço! Ou um dom oculto. Exige a entrega de uma vontade, um olhar confiante, ou um acto requintado ou um sentimento nobre partilhado. E aceitar. Não faz suar!

Nascem estas raridades das sementes trazidas pelo vento norte, seguram-se à terra e resistem até à rajada forte. Tornam o desejo mais colorido! Vê-las não exige subir para nenhum alto dorso. Prova-as quem se deixar encantar, como o poeta pelos Açores, chamou-lhes Ilhas dos Amores, sendo uma a das Flores.

São únicas e delicadas. Marcam grandes pausas e querem-se bem cuidadas. Se são bonitas por natureza serão desdenhadas pelos olhares! Se selvagens e bravias, farão paisagens particulares! As mãos de cada um, pares singulares, vivem como as flores em alguns desabrochares. Guardam o amanhã, toque de mãos frias, cuidadas desde a manhã, querem-se macias. Coberto de cores esse calor da loucura, como o lado sedoso das flores, sente quem as trata com ternura. Frágeis e perfumadas, desafiam o olfacto. As nossas mãos sempre em vasos serão tristes… restringidas ao sentido do tacto. Mais bonitas em liberdade, para marcar aquele momento.

Lembradas com saudade, Mãos e Flores dão-nos alento! Mesmo sem talento, bastará estar atento!

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