6.4.08

mocos ambulantes

entre espelhos vivemos nós. entre paredes alguns vivem sós.
o que se passa lá fora para além do meu eu? o que absorvo em mim e guardo meu?
sou a minha companhia, na tristeza e na alegria, todo o dia, na realidade e na alegoria.
mando no que digo e no que faço. tenho efeito em outro alguém. para além do EU o TU existe. e eu não vivo sem!
tenho raizes que questiono, posso mudar o presente, escolher a direcção da minha acção, posso fazer diferente.
no mar grande em que vivo, nas ondas em que passeio, ponho sentimento em cada grão que piso, existe tanto para além de mim, sei-o.
respirar para viver, viver para cuidar, estar para dar, receber para deixar partilhar.
e nas voltas que damos, encontramos mocos ambulantes, perdidos no seu corpo, valorizam as suas certezas como diamantes.
livres são-no de escolher, viver apenas o seu ser ou abrir os braços às sensações, vivem no quase viver, vivem quase as emoções.
e porque não se ouvem? porque não param um momento? porque partem logo para o tribunal, porque preferem sempre o julgamento?
usam os olhos para condenar, as mãos para mandar, antecipam quem ouvem cantar, não se importam se vão derrubar.
não querem saber os motivos, verdades como clarão, adivinham tudo antes de o ser, os erros dos outros não merecem perdão.
se se ouvissem, viam-no. se se vissem, sentiam-no.
não se mancam que por viver na escuridão se encontram cobertos por uma tremenda ilusão?
raramente são uma mais valia
largam frases com gozo ao vento sem o seu valor importar
e com as horas a passar, é fácil adivinhar
um dia embrulham as pedras de quem as recebeu e, com dor, as teve de calar.

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