3.11.08

grito

ao longo da vida
as coisas que vão e que ficam
as que ficam e que foram
as que entram e que nos mantêm os olhos fechados para sentir o seu intenso
as coisas simples
simplesmente porque o são
fazem a sua diferença
exactamente onde quero estar

não sei quando voltamos a entrar
não sei quando voltamos a estar
mas sei que a acreditar sabemos
mas sei que algum dia, não sei quando,
em alguma parte, debaixo de uma nuvem,
voltamos a chocar

para simplificar faz sentido cada dia
mas ajudar importa saber
que o grito que ouvimos cá dentro
é para ser respeitado
aquele que não cala com alguém bonito
e, sem saber porquê, algures sei que é escutado

respeito os meus gritos
oiço-os agora
e para que não fique mouca para mim
agradeço cada grito que não ouvi
para saber que este é aquele

o da crença que nos faz saber
que ser por ser
não é para mim
o ser por estar
não é para mim
o ter por ter, dar por dar, não me satisfaz
e um dia,
um dia o grito desfaz o complicado,
simples no seu acto, até o Sol será capaz de saber,
mas é preciso que eu me oiça sempre
para que à noite me encontre com a Lua
e traga de volta o que me deixa assim,
crente no simples
saberá alguém o que isso é?
será tarde?
nah, se o princípio é descomplicar, isso seria complicar.
digo-o eu: acho que é no simples que encontramos o que por vezes em nós pode andar disperso
.

1 comentário:

Amaral disse...

Numa palavra, poderia dizer-te o que sinto: belo...
Quantas vezes um grito resulta num desabafo de revolta ou de angústia!...
Mas este é um belo poema intimista, um grandioso momento repartido e partilhado.
..."mas é preciso que eu me oiça sempre" - tal como o teu eu interior te recorda em todos os momentos, tal como experiencias a verdade das tuas emoções...
Por tudo... por todas estas palavras cantadas, abracei o teu grito e deixei-me embalar, ao som da tua nuvem, das coisas simples, da lua que te sorri...